
Nem menino, nem adulto. Nem homem, nem mulher. Nem preto, nem branco. Michael Jackson, que encantou a minha geração com músicas inesquecíveis, morreu da mesma maneira que viveu. Misteriosamente.
Se morrer pode ser um momento de vanguarda, a morte de Michael Jackson foi. Além do espanto mundial, sua marca registrada - é? não é? -, o acontecimento jogou a pá de cal na imprensa tradicional. Que, na era pós-Michael Jackson, terá que, obrigatoriamente, se reciclar.
O fenômeno, dizem, aconteceu no mundo inteiro. Mas só posso testemunhar o que assisti no Brasil. Primeiro a rede norte-americana de televisão CNN informou "a parada cardíaca do cantor, transferido em coma para o hospital". Depois a GloboNews, vacilante, entrou com uma edição extraordinária, anunciando que "segundo a Agência Reuters, Michael Jackson morreu". Logo voltou atrás, sem confirmar ou desmentir o óbito, pois as tradicionais Agências de Notícias não repassavam a informação. No clima morreu-não-morreu, ambas as televisões perderam um tempo enorme.
Enquanto isso, eu e o mundo inteiro acessávamos o site www.tmz.com , que disparou relatando as novidades: "Michael Jackson sofreu um enfarte", "os páramédicos já o encontraram morto", "todas as manobras de ressuscitação estão sendo tentadas". A cada segundo, uma novidade. Em cinco minutos, o site avisou: "Michael Jackson morreu".
O TMZ deixou para trás a concorrência. Quando, finalmente, as televisões anunciaram a morte do cantor, o site já havia começado a especular o excesso de medicação como causa do óbito. Notícia que só apareceu no fim da noite nas redes de notícias tradicionais.
Daqui para frente, a grande imprensa terá que rever a sua estratégia diante de um acontecimento inesperado. A Internet não deixa espaço para o mínimo vacilo. A nova geração já nem liga a televisão - e eu assisti isso ontem, em minha casa. A garotada logo correu para os sites, que relatavam tudo em primeira mão. Incrível, para eles a televisão é uma mídia ultrapassada.
Até na morte, Michael Jackson foi vanguarda. Seu súbito falecimento ensinou que a Internet tem credibilidade e é muito mais ágil do que se imaginava. A partir de agora, se as televisões quiseram sobreviver como a primeira transmissora de notícias, terão que se reciclar.
No dia 25 de junho fiquei duplamente arrepiada: pelo desaparecimento de um ícone da minha juventude e pela reação de um sobrinho adolescente, que, ao escutar as informações desencontradas, logo avisou ao irmão que o poder mudara de mãos: "acessa rápido o TMZ, parece que o Michael Jackson morreu".
Num piscar de olhos, o TMZ descarregou na tela do computador a triste notícia.
Grande Michael Jackson. Morreu, mas morreu criando um novo vácuo no aparentemente sólido "mundo real"...
3 comentários:
Texto maravilhoso. Realmente a grande mídia tem que se reciclar...
Angela querida, adorei seu blog. Ele é cheio de charme e textos interessantes. Também pude conhecer um pouco mais sobre seus livros e admirar a bela prole.
Falando sobre Michael Jackson, concordo com você, ele foi pura vanguarda na vida e na morte. Uma pena que a imprensa faça uso dessas perdas de forma tão sensacionalista. Nesse aspecto, internet e imprensa tradicional se assemelham bastante, exceto pelo tempo e o espaço que cada uma dedica aos fatos. A tradicional ficou lenta perante a internet, é repetitiva e tenta prolongar todo e qualquer sofrimento pelo máximo de tempo possível. Já a internet é mais rápida e rasteira, chega primeiro e dá o recado. A internet é líquida e já se espalhou por todos os acessos. Acorda TV!!
Mais uma vez, parabéns pelo blog, é a sua cara! Bjs, Maristela.
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