
Como nem todos sabem, cobras venenosas não sobem em árvores. O que, de cara, elimina da cobra bíblica, responsável pelo assédio sexual que alavancou o mundo, qualquer intenção maléfica. Dependurada em um galho, olhos melados de sedução, a astuta convenceu Eva a comer o fruto proibido. Grande cobra, salvou-nos de, ainda hoje, fazermos filhos pelo método primeiro. Ou seja, doando costelas. Já imaginaram o tédio?
Entidade protetora dos viciados em assédio sexual – ou seja, o mundo inteiro - a cobra investia no tipo má-fama rotineira. Tanto que foi na mosca. Quero dizer, na bucha. Ou melhor, no meio, exato local exato. Cronistas da época relatam que nem a cobra, nem Eva, primaram pela sutileza. A primeira, fofoqueira, logo avisou à futura pecadora que no centro do paraíso, região interditada por Deus para obras de contenção de encostas, florescia a árvore espocante de frutos com o sabor mais precioso. Não precisou repetir duas vezes. Eva, tresloucada, sequer se deu ao trabalho de fingir não estar nem ai, Imediatamente provou o tal fruto. Gostou e deu – dar, este é o verbo bíblico – para o companheiro. Pronto, oficialmente inaugurou-se a temporada de caça ao sexo oposto que, hoje, os politicamente corretos apelidaram de assédio sexual.
Como em qualquer assédio que se preze, logo após morderem a fruta, Adão e Eva se descobriram nus. Oh, que festa, que euforia, tanta e tanta alegria que a cobra se mandou, temerosa de o casal, neófito no assunto, acabar confundindo alhos com bugalhos. Apesar de mal falada, a cobra se dava ao respeito. Só faltava Adão ratear e utilizá-la para fins menos nobres. Vamos e venhamos, um destino imerecido para quem acabara de salvar a humanidade da monotonia eterna.
No melhor da festa, o céu descobriu a tramóia e armou tanta gritaria que Adão, coitado, falhou, sinalizando o pavor que, para sempre, perseguiria os machos. Mas, nesta altura, rezam as escrituras, o casal se saciara. Tanto que, além do cigarrinho de praxe, ainda se permitiu o luxo de, romanticamente abraçado, costurar algumas folhas de parreira para cobrir as partes ditas pudendas. Com o gosto da fruta, viera o sabor do ciúme. Após o excesso de farra, gente nua, nunca mais.
O seguinte não fugiu à regra. Presos em flagrante delito, as partes acusaram-se mutuamente de perfídia e tentação. Igualzinho a hoje em dia. Pagou-se caro o pecado. A cobra - bem intencionada, mas cobra - acabou condenada a se arrastar vida afora, emprenhada de veneno. Eva viu multiplicar os seus trabalhos e soube que a travessura redundaria em dores - nada que uma boa peridural não resolva. Adão recebeu a pena de sustentar sua prole com o suor do rosto, castigo já resolvido pelos advogados de família. E lá se foram os três, Adão, Eva e a cobra, expulsos do paraíso. Mal e mal fizeram as malas. Passaporte? Nem pensar.
Após tamanha lambança, Deus achou de bom-tom colocar aos pés da árvore, guardando-a de inoportunos, um querubim pitboy com espada reluzente e, diz a Bíblia, versátil. Evitemos pormenores, espada versátil é um troço meio estranho. Enfim, não conjeturemos. O fato incontestável é que o fruto tentador permaneceu bem guardado, motivo justíssimo para os descendentes de Adão e Eva lutarem para alcançá-lo.
No escoar dos milênios, o paladar, antes raro, acabou banalizado e tratado com desdém. Então o céu, sorrateiro, incutiu na mente humana a idéia tenebrosa de apelidar o instinto de assédio, penalizando-o com multas, leis, juízes, vergonha. Tudo dos antigos tempos retornou com novo nome.
Eva exultou com a chance de novamente deter o prazer de atentar. Com a ameaça da Justiça pairando sobre a cabeça – a pensante, claro – os Adões contemporâneos viciaram em emperrar. E da cobra ninguém sabe. Mas se murmura, escondido, que moída e triturada, ela é matéria-prima na produção do Viagra.
Entre o Gênesis e o pós-moderno, a gandaia, em sua essência, na verdade não mudou.
Deo gratias.
Entidade protetora dos viciados em assédio sexual – ou seja, o mundo inteiro - a cobra investia no tipo má-fama rotineira. Tanto que foi na mosca. Quero dizer, na bucha. Ou melhor, no meio, exato local exato. Cronistas da época relatam que nem a cobra, nem Eva, primaram pela sutileza. A primeira, fofoqueira, logo avisou à futura pecadora que no centro do paraíso, região interditada por Deus para obras de contenção de encostas, florescia a árvore espocante de frutos com o sabor mais precioso. Não precisou repetir duas vezes. Eva, tresloucada, sequer se deu ao trabalho de fingir não estar nem ai, Imediatamente provou o tal fruto. Gostou e deu – dar, este é o verbo bíblico – para o companheiro. Pronto, oficialmente inaugurou-se a temporada de caça ao sexo oposto que, hoje, os politicamente corretos apelidaram de assédio sexual.
Como em qualquer assédio que se preze, logo após morderem a fruta, Adão e Eva se descobriram nus. Oh, que festa, que euforia, tanta e tanta alegria que a cobra se mandou, temerosa de o casal, neófito no assunto, acabar confundindo alhos com bugalhos. Apesar de mal falada, a cobra se dava ao respeito. Só faltava Adão ratear e utilizá-la para fins menos nobres. Vamos e venhamos, um destino imerecido para quem acabara de salvar a humanidade da monotonia eterna.
No melhor da festa, o céu descobriu a tramóia e armou tanta gritaria que Adão, coitado, falhou, sinalizando o pavor que, para sempre, perseguiria os machos. Mas, nesta altura, rezam as escrituras, o casal se saciara. Tanto que, além do cigarrinho de praxe, ainda se permitiu o luxo de, romanticamente abraçado, costurar algumas folhas de parreira para cobrir as partes ditas pudendas. Com o gosto da fruta, viera o sabor do ciúme. Após o excesso de farra, gente nua, nunca mais.
O seguinte não fugiu à regra. Presos em flagrante delito, as partes acusaram-se mutuamente de perfídia e tentação. Igualzinho a hoje em dia. Pagou-se caro o pecado. A cobra - bem intencionada, mas cobra - acabou condenada a se arrastar vida afora, emprenhada de veneno. Eva viu multiplicar os seus trabalhos e soube que a travessura redundaria em dores - nada que uma boa peridural não resolva. Adão recebeu a pena de sustentar sua prole com o suor do rosto, castigo já resolvido pelos advogados de família. E lá se foram os três, Adão, Eva e a cobra, expulsos do paraíso. Mal e mal fizeram as malas. Passaporte? Nem pensar.
Após tamanha lambança, Deus achou de bom-tom colocar aos pés da árvore, guardando-a de inoportunos, um querubim pitboy com espada reluzente e, diz a Bíblia, versátil. Evitemos pormenores, espada versátil é um troço meio estranho. Enfim, não conjeturemos. O fato incontestável é que o fruto tentador permaneceu bem guardado, motivo justíssimo para os descendentes de Adão e Eva lutarem para alcançá-lo.
No escoar dos milênios, o paladar, antes raro, acabou banalizado e tratado com desdém. Então o céu, sorrateiro, incutiu na mente humana a idéia tenebrosa de apelidar o instinto de assédio, penalizando-o com multas, leis, juízes, vergonha. Tudo dos antigos tempos retornou com novo nome.
Eva exultou com a chance de novamente deter o prazer de atentar. Com a ameaça da Justiça pairando sobre a cabeça – a pensante, claro – os Adões contemporâneos viciaram em emperrar. E da cobra ninguém sabe. Mas se murmura, escondido, que moída e triturada, ela é matéria-prima na produção do Viagra.
Entre o Gênesis e o pós-moderno, a gandaia, em sua essência, na verdade não mudou.
Deo gratias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário