O livro "Ensaio sobre a cegueira" é uma metáfora sobre a solidão, a brutalidade, o egoísmo, tudo o que de pior existe nos homens. Saramago, irresistível, teceu um livro belíssimo sobre o nosso lado sombrio.
Com extraordinária sensibilidade, o diretor Fernando Meirelles captou a energia desta obra e fez um filme forte e bonito. E que dá um passo além.
Num mundo onde ninguém se enxerga, até o generoso amor de uma mulher, capaz de se prender no inferno para apoiar o marido cego, não é tão amor assim. Esconde o gozo de estar no comando, a visceral luta pelo poder.
- Cruel, murmurei quando a sessão acabou e as luzes do cinema acenderam.
Nietzsche, sentado a meu lado, comeu a sua última pipoca e me corrigiu:
- Não é cruel, é Humano. Demasiadamente humano.
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