
Não há como descrever a dor da minha nora. Nem as lágrimas de meu filho diante da filhinha morta. Nem o dilaceramento de meu coração e o dos outros avós, impotentes diante da brutalidade da perda e da dor que atingia os nossos jovens e esperançosos filhos.
A má-formação de minha neta foi descoberta aos setes meses de gravidez, através de ultra-sonografia. Um médico misericordioso, atento ao drama que vivíamos, induziu o parto para não sacrificar a minha nora, condenada a gestar por mais dois meses uma criança que, ela sabia, iria morrer.
Acompanhando esta discussão teórica se o aborto deve ou não ser permitido nos casos de anencefalia, penso que nenhum jurista, nenhum religioso, ninguém que não tenha vivido o que eu e minha família vivemos pode palpitar.
O problema é muito simples: fetos anencéfalos não sobrevivem. A gestante é obrigada a carregar em seu corpo um futuro cadáver e, com ele, estabelecer laços de afeto. Isto é cruel e desumano.
Permitir o aborto de crianças que, antes de nascer, já estão mortas, é um ato de misericórdia com as jovens mães, seus companheiros e suas famílias.
O resto é balela e ignorância de quem nunca viveu a trágica experiência de não esperar uma criança: esperar a morte.
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